terça-feira, 26 de abril de 2016


BRUNO MINHA VIDA

Bruno Minha Vida
assim era a tatuagem
nas costas da menina
sem vírgula
sem ponto
com seu bebê no colo
Bruno Minha Vida

Vida
Minha
Bruno


Minha
Bruno
Vida

segunda-feira, 25 de abril de 2016


NA PRAIA DA MINHA INFÂNCIA

Em Niterói tive uma ressaca terrível, via um barquinho com dois pescadores no meio do mar, sem pai nem mãe: parecia um barquinho de papel no meio de uma baía com revoltas explosivas. Marés profundas geravam monstros líquidos nunca antes vistos, as ondas cuspiam e amontoavam no fiapo que restava da areia os lixos acumulados, as dores regurgitadas: sapatilhas de criança, bonecas rotas, moedas fora de circulação, muitos objetos indefinidos esculpidos pela corrosão do sal e das maresias. Pude sentir que o inconsciente arrasado da civilização vinha à tona, estatelado na areia.

Quero fazer parte daquilo, daquela perturbação incrível que a natureza surpreendentemente proporciona. Resolvo entrar pelo lado direito, onde há mais pedras, algas, ouriços. Ondas se entrechocam e me levam ao fundo, pedras batem nos meus joelhos e algo corta o meu pé esquerdo. Ele me diz desesperado e com uma dor aguda que saísse imediatamente, que voltasse à casa da Mãe, onde há café com leite quente e pão com manteiga.