quarta-feira, 16 de abril de 2014

AULA DE HISTÓRIA

Oitenta deserdados comem sopa 

cercados
oitenta resistindo ao frio e à chuva
enfileirados embaixo da marquise
sentindo um tanto de fraqueza
um tanto de revolta

Não pensam em mudar o mundo

pois não fazem parte dele

Oitenta seres de carne, osso, olhos, bocas

cercados
hereges, desviantes
blasfêmias ambulantes
conspurcando sem saber a única religião universal do tempo
a Santa e Sagrada Propriedade

A eles o rigor da Lei

com suas luzes piscando e passando
em frente à ocupação desocupada
como urubus à espera da falência 
de um corpo moribundo

domingo, 13 de abril de 2014


CHAMADAS DA MANCHETE DA REVISTA ISTO É

Pesquisas defendem o uso de remédios para acabar 
com a paixão
descubra quando o amor pode virar doença
saiba por que ele pode ser considerado um vício


sexta-feira, 11 de abril de 2014


GUDENGO

Seu José Christo vive em uma ilha entre o rio e o mar, no estado do Pará.

Vulgo Gudengo, conhece a lenda de cada peixe, e conta em formato de piada.

Gudengo canta cantigas em voz fanhosa, improvisa poemas e repete histórias fantásticas que não sabe de onde vieram (provavelmente de sua cachola inquieta).

Gudengo desliza pelas pedras com suas botas de cano alto e começa a chamar as garças pelo nome.

Gudengo foi uma vez à capital. Não gostou do que viu. 

Gudengo se diz católico & evangélico, mas não pisa em igreja nenhuma, acha que todas são tontices humanas.

Sobre Gudengo, pairam histórias obscuras em seu passado, mas ninguém tem certeza de nada.

Gudengo tem um olho pra cada lado, mas os dois olham pro mesmo céu quando surge uma lembrança da mulher: a antiga esposa, cujo cheiro ele já não lembra.

Gudengo tripudia do real, mas fica amigo dos peixes que come. Ele os encontra todo dia em um curral de pesca, pela manhã, na maré vazante.