terça-feira, 26 de abril de 2016


BRUNO MINHA VIDA

Bruno Minha Vida
assim era a tatuagem
nas costas da menina
sem vírgula
sem ponto
com seu bebê no colo
Bruno Minha Vida

Vida
Minha
Bruno


Minha
Bruno
Vida

segunda-feira, 25 de abril de 2016


NA PRAIA DA MINHA INFÂNCIA

Em Niterói tive uma ressaca terrível, via um barquinho com dois pescadores no meio do mar, sem pai nem mãe: parecia um barquinho de papel no meio de uma baía com revoltas explosivas. Marés profundas geravam monstros líquidos nunca antes vistos, as ondas cuspiam e amontoavam no fiapo que restava da areia os lixos acumulados, as dores regurgitadas: sapatilhas de criança, bonecas rotas, moedas fora de circulação, muitos objetos indefinidos esculpidos pela corrosão do sal e das maresias. Pude sentir que o inconsciente arrasado da civilização vinha à tona, estatelado na areia.

Quero fazer parte daquilo, daquela perturbação incrível que a natureza surpreendentemente proporciona. Resolvo entrar pelo lado direito, onde há mais pedras, algas, ouriços. Ondas se entrechocam e me levam ao fundo, pedras batem nos meus joelhos e algo corta o meu pé esquerdo. Ele me diz desesperado e com uma dor aguda que saísse imediatamente, que voltasse à casa da Mãe, onde há café com leite quente e pão com manteiga.
 

segunda-feira, 23 de junho de 2014


28
Voltar a escrever na areia da praia as cartas ao presente. É preciso desistir da glória, com grande fervor - é preciso recuperar o escândalo, o berro no meio do caos de espuma e corpos rolando à mercê do movimento caótico das marés mais fundas a inventar essa efêmera flor d'água mutante: a onda abruptamente erguendo-se, explodindo sobre si mesma.



segunda-feira, 16 de junho de 2014


ENTRE O SONHO E O MAR

25 
Eis o cara que fica aqui fora, que anda por aí sozinho, que ainda espera que você saia de sua bolha, de suas panelas confortáveis - ainda espera que você interrompa bruscamente suas conversas de sempre e depois diga algo que seja, que me desloque para...

Colecionador de frases feitas, caras pálidas e olhos insones, o sujeito se manda e mergulha na praia de areias mornas, de água gelada com restos de algas e águas vivas.

O ministério da saúde o advertiu: trabalho demais faz mal à saúde, trabalhar não permite que se observe o brilho fugidio dos grãos de areia molhados pela água do mar refletindo as cores mutantes do céu de outono.

Cada vez mais convencido de que nos sonhos vem o delírio humano mais puro, a poesia mais aterradora - como a comunicação indireta entre um ser e outro, em um átimo de segundo, um olhar desnudo sem barreiras alfandegárias, sem revistas obrigatórias.


terça-feira, 10 de junho de 2014


O SUJEITO EMERGE DA ANESTESIA


22

Acordo, a água gelada na cara, um tapa nos olhos, descongelar a visão, devolver a mim mesmo o olhar que deixei fugir.

Rivotriste é um nome adequado: ele tira teu sorriso por vinte e quatro horas, tudo vai ficando sem ondas, sem cor, sem tempo ruim, sem tempo nem cabeça de pensar.

Emoção alguma irá te afetar de modo algum durante um bom tempo - essa também pode ser  a função da masturbação: criar uma geléia amorfa de sexo virtual em sua mente com memórias demais. Encha essa cabeça com notícias do livrinho azul.

terça-feira, 3 de junho de 2014

MADRUGADA

14
Agora é o fluxo, me convenço. Deixar os sensores ligados, as pistas que se desdobram. Sonho de infância, insetos verdes na caixinha, crianças más que adestram insetos cheios de protuberâncias no corpo, cada vez mais treinados para fazer o mal. Penso em abrir a caixinha, abrir o chamado livro de caras, ver se a luz verde dela anda acesa,  contar do pesadelo na madrugada, correr o risco de bancar o maluco perturbado, perturbador.

O menininho tinha medo de formigas, tinha pavor, berrava muito, fingíamos que tínhamos formigas entre os dedos, jogávamos formigas imaginárias dentro da camisa do menino, ele tinha certeza que as formigas picavam sua pele branca e vermelha


domingo, 1 de junho de 2014


13
Anda pelo mundo tropeçando, todo mundo caindo, alguns novamente levantando - anda pelo mundo e não te deixam passar, mas segue indo, ainda vou te achar um dia, quem sabe desprotegidos.

Reencontrar a flor da pele em algum lugar por baixo desses óculos escuros, em alguma outra fina pele embaixo das tantas jogadas por cima do frio da existência, da sobrevivência.