terça-feira, 26 de novembro de 2013



 O CORPO VAGO

  Já ouviu falar do corpo?
 o corpo é minha mãe
 meu início
 o corpo é tudo que eu tenho

 mas também é o nada
 que não tenho
 é por isso que a morte não existe
 no carnaval eu descobri

 o carnaval guarda um segredo
 sobre o corpo, esse festival
 de carne, água, fluxos, sangue
 memórias, afetos, odores
 o para além
 o despautério
 delírio bastardo
 corpo vadio
 corpo vago

domingo, 17 de novembro de 2013



 FRONTEIRAS

  Puro arco
  portal imenso
  portão sujo
  fronteira aberta
  entre a Lapa e a Lapa
  entre a festa e o sonho
  pura passagem
  entre a noite morta
  e a musa rediviva
  pura ponte
  puro túnel
  há uma nova claridade
  na cidade impossível
  de retas que convergem 
  ao absurdo 
  de curvas que suscitam
  suscitam
  suscitam

terça-feira, 5 de novembro de 2013


A BLUSA DE ONCINHA NO SAMBA DO SEU CLÁUDIO


Parou no balcão do bar, se viu no espelho, voltou a si. Começou a sentir-se um europeu de segunda mão, um imitador barato de um estilo e de um mundo que não cabiam naquele bar. Entendeu também que suas categorias mentais não se aplicavam àquele lugar. Percebeu que havia ali uma selvageria que lhe escapava, uma febre incendiária a contrapelo de todas as tentativas midiáticas e governamentais de implementar a disciplina familiar nos cidadãos, o respeito contido, as boas maneiras e os conceitos politicamente corretos. O movimento eloquente da moça com blusa de oncinha e o seu sorriso genuíno lhe convenceram dessas coisas.

  

domingo, 3 de novembro de 2013


O DIA DE PERDER O REBOLADO 

Todo malando um belo dia
esbarra com certa mulher:
mais malandra que ele
mais safada que ele
mais esperta e engraçada que ele
desfilando a ginga 
mais gingada que a dele